O Assassino da Rua Marechal Deodoro” – Um Conto Policial em Cornélio Procópio:Por Ennio Trevizanni
“O Assassino da Rua Marechal Deodoro” – Um Conto Policial em Cornélio Procópio
Por Ennio Trevizanni
Era setembro de 1947, fim de inverno em Cornélio Procópio e a população esperava ansiosamente a chegada da primavera, que definitivamente traria de volta o clima mais quente e a volta das chuvas que alagavam a cidade, deixando a Avenida Francisco Junqueira, um mar de lama, para desespero das elegantes senhoras, dos motoristas de aluguel com seus “Fords Bigodes” ou dos condutores de charretes e carroças.
A cidade crescia e junto a ela foram criados os distritos de Congonhas, Leópolis e Sertaneja , que foram anexados ao município. Cornélio Procópio estava ansiosa e já se prepara para os festejos de seu 10º ano de emancipação política, que ocorreria no próximo ano.
Nos Estados Unidos, as pessoas se perguntavam sobre Incidente em Roswell, ali começava a caça aos discos voadores e a dúvida se estávamos sozinhos no Universo. A Índia se separava do Reino Unido e o mundo passou a admirar Mahatma Gandhi.
No Brasil do pós-guerra, sob a mão de ferro do governo do General Eurico Gaspar Dutra, a política desenvolvimentista era baseada nos princípios do planejamento econômico com uma forte interferência estatal nos setores produtivos industriais e financeiros.
Também naquele ano eram encerradas as atividades do Partido Comunista Brasileiro e o país esperava a chegada do presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, que viria ao Rio de Janeiro para se encontrar com Dutra e o país se prepara para romper as relações diplomáticas com a União Soviética, tomando assim um lado na Guerra Fria.
Com a cultura agrícola do “ouro verde” plantado nas terras roxas do norte do Paraná, Cornélio Procópio, que ficou conhecida naquele ano mundialmente como “Capital do Café”, recebia as incursões de lavradores oriundos de São Paulo, Minas Gerais, dos estados do norte e nordeste, além de imigrantes italianos, japoneses e de outros países.
Em 1947, curiosamente houve uma insurreição para que a cidade mudasse seu nome para Monte Castelo em homenagem aos expedicionários da Grande Guerra e por alguns dias assim foi feito, mas o Governador da época, Moisés Lupion, revogou o decreto que ele mesmo havia criado e a cidade voltou a ter o nome do antigo dono das terras do KM125 da Serra do Laranjinha.
Tudo ia bem na cidade, que aguardava a construção da sua catedral, mas na segunda-feira, dia 8, um dia após os festejos de 125 anos da Declaração de Independência, o então prefeito e delegado da cidade, o advogado e ex-sargento militar João Theodoro, último nomeado na história do munícipio, foi acordado pelos seus comandados, que traziam a terrível notícia que um corpo havia sido encontrado em uma área rural a oeste do aero clube.
Tratava-se de uma jovem branca de pouco menos de 20 anos, certamente filha de humildes agricultores, que foi encontrada seminua com um profundo corte no pescoço.
O corpo apresentava rigidez, sem marcas de violência sexual, mas ferimentos em punhos, como ter sido amarrada e arrastada para aquele lugar antes de ter sido morta, certamente fato este ocorrido na noite anterior.
A princípio o caso foi tratado como “isolado”, talvez um crime cometido por um indivíduo embriagado que queria possuir a moça, que se negou e em um gesto sem pensar, ele acabou lhe tirando a vida e fugiu, tomando o primeiro trem para algum lugar qualquer.
Testemunhas disseram ter visto a moça no dia anterior na Rua Marechal Deodoro da Fonseca, o turbilhão da cidade, onde pessoas de todos os cantos do país se concentravam no ir e vir da das locomotivas a vapor da Estação Ferroviária.
Como o prefeito Theodoro estava empenhado em obras para a melhoria do município, como calçamento das vias, construção de escolas, do Country Club, uma novidade na região e estradas, ele passou o caso para a responsabilidade do Cabo Peixoto, seu fiel escudeiro na delegacia, que funcionava em uma rústica casa na Praça Brasil, de onde ele via aos domingos, as belas moças passeando após a final da missa, na igreja que ali foi construída
.Peixoto, na verdade Luiz Antônio Peixoto, um jovem de 27 anos de idade, como muitos, chegou à cidade pouco antes vindo de Taubaté, no interior de São Paulo, para se aventurar e quem sabe, ter sorte e fazer fortuna nas terras produtivas do Norte Pioneiro do Paraná.
O CB Peixoto era um dedicado policial, que se empenhava na segurança da população, sempre alerta e quase não folgava, pois sabia de suas responsabilidades como braço direito do prefeito, mas aquela morte o fez mudar, ele se negava em acreditar na versão imposta do crime, havia algo de assombroso no ar, Peixoto pressentia que havia um monstro andando sorrateiramente pelas ruas da cidade em busca de uma nova presa.
A semana seguiu sem novidades, mas a tranquilidade acabou com o achado de um novo corpo, mais uma jovem, morta como a anterior. Familiares revoltados e população cobrava do prefeito um resposta, era como se todo peso do mundo caísse sobre as costas do CB Peixoto.
Os dias se passaram e mais um corpo, depois outro e mais outro, todos de jovens, todas vista antes de suas mortes passeando pela Rua Marechal Deodoro da Fonseca e o CB Peixoto, presumia que ali que o assassino podia estar.
As autoridades e a sociedade se negavam em acreditar em um criminoso em série na cidade, como se fosse algo saído dos livros, o que frustrava Peixoto, que perdia noites de sono tentando desvendar o mistério, procurando em cada canto da cidade, uma pista que o levasse ao assassino.
Em suas investigações, Peixoto descobriu que um homem de boa aparência, de pele muito branca, trajes negros e elegantes com chapéu foi visto por várias vezes andando pela Rua Marechal Deodoro da Fonseca, principalmente nos arredores da estação, o qual atraia atenção das jovens moças e que talvez estivesse abrigado na Pensão dos Trabalhadores.
“Finalmente um suspeito?”
Se perguntava o CB Peixoto, que passou a buscar pelo rapaz por toda aquela região da cidade, dia e noite sem descansar, porém mais dois corpos surgiram, já se somavam seis ao todo.Na Pensão dos Trabalhadores, hospedes e funcionários relataram sobre um homem que ali passou uns dias, um cidadão bastante discreto e calado, que ficava no quarto a luz do dia e saia somente ao cair da noite, voltando ao amanhecer.
Em uma noite de forte chuva, buscando respostas pela Rua Marechal Deodoro da Fonseca, nas proximidades da Estação Ferroviária, o clarão de um forte relâmpago fez surgir na frente do CB Peixoto a figura de um homem trajado de preto e rosto muito branco, de olhos negros e profundos, que o fez saltar para traz.
“Seria o culpado por todas aquelas mortes?”
Rápido como o relâmpago que acabara de cair, a figura se pôs em fuga entre os trilhos, tendo em seu encalço o CB Peixoto, mas a escuridão da noite e a forte neblina que surgiu o fez desparecer em meio as casas de madeira da Vila São Pedro.
A chuva se prolongou mais alguns dias e quando o sol voltou, Peixoto foi surpreendido por uma nova morte, que o aterrorizou, pois na testa da vítima manchada de sangue, o assassino havia escrito com faca seu nome: “PEIXOTO”.
O mais estranho é que dias depois, tão subitamente como começaram, ao final do mês, para a sorte ou maldição que marcou a vida e carreira do CB Peixoto, as mortes se encerraram, foram sete no total e sem conseguir resolver os crimes, ele deixou a cidade, como também a figura do homem de terno preto.
Dois meses se passaram e em clima de festa, no dia 15 de novembro, João Theodoro entregou seu cargo ao prefeito eleito por voto popular, Francisco Reghin, sendo as mortes esquecidas, ficando os registros perdidos no tempo e nunca mais se teve notícia, do que na época, ficou conhecido como “O Assassino da Rua Marechal Deodoro”.
Fontes: – Governo Gaspar Dutra (1946-1951) – Democracia e fim do Estado Novo… – https://educacao.uol.com.br/…/governo-gaspar-dutra-1946… – Acesso em 20/08/2021- IBGE – https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html… – Acesso em 20/08/2021- Cornélio Procópio: Das Origens e da Emancipação – ÁTILA SILVEIRA BRASIL – 2ª edição, revisada por Newton C. Braga – UENP – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ – Campus de Cornélio Procópio+6
32Beto Fuin, Fabio Rigon e outras 30 pessoas12 comentários36 compartilhamentos