Audiência debate políticas para a permanência do jovem no campo
Encontro aconteceu na data em que se celebra o Dia Estadual da Juventude no Campo e faz parte das ações para incentivar que os jovens deem continuidade ao trabalho dos pais na área rural.
Um setor que acumula recordes tanto na produção, quanto na balança comercial brasileira, o agronegócio é um dos pilares da economia brasileira. Mesmo assim, o setor ainda enfrenta desafios, entre eles, manter os jovens no campo, à frente dos negócios das famílias. Muitos com dúvidas sobre permanecer no meio rural ou não. Para entender o que determina essa permanência ou saída, o deputado Professor Lemos (PT), um dos autores da lei 20.400/2020 que instituiu o 15 de julho como Dia Estadual da Juventude Rural, promoveu, na manhã desta quinta-feira (15), uma audiência pública remota que tratou do tema “Dia Estadual da Juventude Rural do Estado do Paraná – Debatendo a sucessão rural e o incentivo à permanência da juventude no campo”.
“Além dos fatores que tradicionalmente norteiam o tema, como a falta de infraestrutura de comunicação (especialmente internet), carência de alternativas de lazer e o fato de que quase tudo é mais distante, há também um fator sociocultural, muitas vezes com origem dentro de casa, que também empurra a nova geração para fora da propriedade. E é para buscar formas de mudar esses conceitos que estamos aqui hoje”, afirmou o parlamentar.
O projeto de lei 446/2020 aprovado em novembro do ano passado na Assembleia Legislativa do Paraná, é assinado também pelos deputados Requião Filho (MDB), Luciana Rafagnin (PT), Arilson Chiorato (PT), Goura (PDT) e Tadeu Veneri (PT).
Três palestras, música regional e muitas participações marcaram a audiência. O primeiro palestrante foi Valdecir José Zonin, que falou sobre o tema “Juventude Rural e Sucessão na Agricultura Familiar”. Ele trouxe para o debate algumas reflexões, como o que considera fatores cruciais para a continuidade do jovem na área rural. “Existem formas como acesso facilitado ao crédito, cursos na área agronômica no interior e presença do Estado com políticas públicas que motivem os jovens nesse sentido. O objetivo é que eles, além de proprietários rurais, possam integrar sindicatos e cooperativas para melhorar a atuação das entidades, as condições de vida nas localidades e se tornem protagonistas nesse processo”, pontuou.
Diretor técnico da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (SEAB), Rubens Ernesto Niederheitmann, explanou sobre o tema “Políticas para a Juventude do Campo”. Ele mostrou um pouco da realidade do meio rural do Paraná, demonstrando que a maioria dos jovens decide sair do campo. Os motivos são a questão econômica e de infraestrutura da propriedade; falta de lazer, más condições das estradas rurais e o acesso à internet.
Mas também ressaltou o que a SEAB tem feito para tentar mudar essa realidade. Entre as diretrizes definidas pela SEAB, estão o investimento na produção sustentável, melhoria da condição de vida no meio rural, com incremento nas políticas públicas e competitividade e renda. “Expansão das agroindústrias, assistência técnica, tecnologia e inovação para incluirmos os jovens e as mulheres como protagonistas dessas políticas. Sabemos o quanto os jovens têm mais facilidade para lidar com essas inovações”, enfatizou.
Niederheitmann citou como caminhos os programas Banco do Agricultor, com taxas de juros reduzidas, apoio ao turismo rural e incentivo às agroindústrias familiares e o Coopera Paraná, que trabalha na formação e capacitação de lideranças no campo e tem como critérios pontuar associações e cooperativas a partir da inserção de jovens. “Acreditamos que não é uma questão de querer fixar o jovem no campo, mas sim de mostrar para eles todas as oportunidades que o campo oferece, que podem ser tão atrativas quanto as oportunidades nas cidades”, concluiu.
Luiza Dulci, integrante do Coletivo Agrário do PT e ex-assessora de Juventude Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), trouxe o tema “Conjunto Nacional da Juventude Rural”. Para ela, é preciso pensar na alimentação e no meio ambiente como políticas de Estado que podem incluir os jovens na construção. “Temos que lembrar que são mais de 19 milhões de brasileiros passando fome e isso pode ser solucionado com a melhoria na produção e comercialização do alimento pela aliança campo/cidade. Vejo a juventude como esse elo”, avaliou.
Luiza acredita que a sucessão rural é um direito dos jovens e um dever do Estado, proporcionando garantia a terra, ao crédito e às condições para a permanência.
Outras presenças – Diálogo entre pais e filhos, políticas públicas de crédito, tecnologia e melhorias na comunicação, para incentivar os jovens a permanecerem no campo, estiveram entre as sugestões dadas ao longo da audiência por diversos participantes. Entre eles, Marcos Júnior Brambilla, presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares do Estado do Paraná (Fetaep); Josenilda da Cruz Ferreira, coordenadora Estadual da Juventude da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do Estado do Paraná (Fetraf); Mônica Bufon, secretária da Juventude Rural da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag); Jaciara Muller, coordenadora de jovens da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag/RS); Jackson Silva, representante de Juventude do Movimento Sem Terra do Estado do Paraná (MST/PR); Olcimar da Rosa, presidente da Cooperativa Central de Comercialização e Reforma Agrária do Paraná (CCA/PR); Vanderlei Ziger, presidente da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar (Unicafes); Ivori Fernandes, presidente da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar do Paraná (Unicafes/PR); Miguel Hulhak, presidente da Associação Regional das Casas Familiares Rurais do Estado do Paraná (Arcafar/PR); Éder Tocheto, coordenador de Juventude da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado de Santa Catarina (Fetraf/SC).
Participações – Organizaram a audiência e participaram, ou foram representados por assessores no debate, a deputada Luciana Rafagnin (PT), e os deputados Arilson Chiorato (PT), Goura (PDT), Anibelli Neto (MDB), Boca Aberta Júnior (PROS) e Tadeu Veneri (PT).
Sobre a lei – O objetivo da lei 20.400/2020 é valorizar a juventude rural do estado, que enfrenta em seu cotidiano uma série de adversidades, como exclusão do sistema produtivo, acesso precário a serviços e recursos de infraestrutura e falta de políticas públicas específicas para os jovens. “Ao instituir o 15 de julho como o Dia Estadual da Juventude Rural, homenageamos e valorizamos os jovens que exercem atividades ligadas à agricultura e pecuária, e também ampliamos a discussão sobre a importância da juventude rural e seu trabalho no campo. Nossa intenção é promover a conscientização da população sobre a valorização da juventude do campo e estimular o poder público a promover políticas como acesso à internet, educação de qualidade, socialização e lazer para os jovens, entre outras medidas”, destacou Lemos.
Com a legislação, anualmente no dia 15 de julho poderão ser realizados seminários, palestras, debates e outras atividades estimulando os jovens a permanecerem e investirem no campo. A audiência pública no primeiro ano da lei em vigor fez parte das ações. FONTE : ALEP