Médico que fez post em rede social antes de morrer por Covid-19 teve infância humilde; esposa diz: ‘Nunca desistiu’

Lucas Pires Augusto tinha 32 anos e era neurocirurgião. Antes de morrer em Maringá (PR), médico disse que pegou a doença cuidando dos pacientes com amor e que faria tudo outra vez.

A infância humilde e a falta de oportunidades nunca foram empecilhos para que Lucas Pires Augusto sonhasse com uma vida melhor sendo médico. Morto aos 32 anos vítima da Covid-19, o profissional declarou o amor aos pacientes e sua fé antes de partir.

Lucas é uma das mais de 6 mil vítimas que a Covid-19 fez no Paraná. O médico neurocirurgião morreu no dia 8 de agosto em Maringá, no norte do estado.

Poucos dias antes de morrer, o neurocirurgião escreveu uma mensagem em uma rede social avisando que estava sendo internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Lucas Augusto Pires morreu em agosto vítima da Covid-19, no Paraná — Foto: Montagem/G1

Lucas Augusto Pires morreu em agosto vítima da Covid-19, no Paraná — Foto: Montagem/G1

Pouco mais de quatro meses após a morte de Lucas, a viúva e também médica, Camila Piscitello, relembrou em entrevista ao G1 o caminho que o marido percorreu.

Trajetória

Camila conta que conheceu Lucas em Curitiba, ainda na faculdade. O então estudante era o calouro da então veterana na Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde se conheceram em 2008.

Antes de chegar à capital do Paraná, Lucas batalhou pelo conhecimento no interior de Minas Gerais, em Cataguases. Filho da escola pública, foi aprovado em todos os vestibulares de medicina que prestou, aos 18 anos.

A vida no Paraná também teve seus perrengues. Segundo Camila, Lucas teve dificuldades financeiras, já que os pais não tinham dinheiro para bancá-lo. A avó dele também ajudava nos estudos.

“Ele saiu de um lugar tão pequeninho e com tanta dificuldades para chegar onde chegou. Tem que ter persistência e determinação. Ele vivia com o dinheiro bem contadinho, morávamos em um apartamento bem velho. Mas ele nunca desistiu e aproveitou todas as oportunidades que teve para se formar”, disse Camila.

Lucas e Camila se conheceram na faculdade e casaram em 2014 — Foto: Arquivo pessoal

Lucas e Camila se conheceram na faculdade e casaram em 2014 — Foto: Arquivo pessoal

Marido, pai e médico

“Era muito inteligente, tinha um QI acima da média, aprendia tudo só de ouvir. Muito determinado, corajoso, muito carinhoso. Alegre, divertido, sempre brincando.” Este era Lucas dentro e fora dos consultórios, lembrou Camila.

Os dois se casaram em 2014 e têm dois filhos. O primeiro, um menino, tem dois anos de idade. A caçula, uma menina, tinha apenas dois meses quando o pai morreu.

Camila conta que o filho mais velho pergunta muito pelo pai. A mãe, então, conta histórias sobre o médico que cuidava das pessoas e que, agora, mora no céu.

Por conta da profissão, Lucas trabalhava muito. Mas sempre que estava em casa, fazia questão de aproveitar os momentos com a família.

Carreira e pandemia

Lucas se formou em 2013 e logo se mudou para Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, onde fez a residência em neurocirurgia pela Universidade de São Paulo (USP).

Cinco anos após se formar, o médico participou de uma grande cirurgia que separou gêmeas siamesas que nasceram unidas pela cabeça. O procedimento foi feito em cinco etapas.

Um dos coordenadores da cirurgia era o médico norte-americano James Goodrich, que também morreu vítima da Covid-19, em março.

Aliás, os Estados Unidos estavam nos planos de Lucas antes da pandemia. Camila conta que o médico gostaria de se mudar para o país com a família, onde faria uma especialização.

“Ele queria ser um neurocirurgião de destaque, promissor. A paixão da vida dele era a medicina. Ele fazia tudo que podia para as pessoas ficarem bem com o trabalho dele. Tratava todos bem, com humanidade. Ficava feliz por ver que pôde mudar a vida alguém”, lembrou a esposa.

Neurocirurgião trabalhava em hospital de Ivaiporã, no norte do Paraná — Foto: Arquivo pessoal

Neurocirurgião trabalhava em hospital de Ivaiporã, no norte do Paraná — Foto: Arquivo pessoal

Por Wesley Bischoff, G1 PR — Maringá